Por: Nicholas Vital, Diretor da ABMRA
Comunicação como aliada nas relações governamentais
Mais do que entender, o agente público deve ser capaz de explicar a importância e os impactos das demandas do agro aos seus pares e eleitores
“Relatório inédito revela participação direta de multinacionais no lobby ruralista; além de atuar em associações que financiam o Instituto Pensar Agro, empresas como Bayer, Basf, Syngenta, JBS, Cargill e Nestlé mantiveram 278 reuniões com o alto escalão do governo Bolsonaro.” O tom alarmista logo na abertura da reportagem publicada pelo site De olho nos ruralistas induz o leitor a imaginar o pior. O que eles estariam tramando? A resposta é simples: nada demais.
Os números acima são relativos ao governo Bolsonaro, ao longo de quatro anos – o que dá pouco mais de um encontro por semana. O que a reportagem omite é que o mesmo ocorria durante os governos Temer, Dilma, Lula, Fernando Henrique, Itamar, Collor e também nos tempos dos militares. E mais: vai seguir acontecendo ao longo de todo o terceiro mandato do presidente Lula. E qual o motivo disso acontecer? Simplesmente porque não há nada de errado com esses encontros. Lobby não é crime e é preciso que isso fique bem claro.
Saïd Farhat, uma das principais autoridades no assunto no Brasil, afirma em seu livro “Lobby: o que é? Como se faz?” (Aberje Editorial, 2007), que o lobby, hoje chamado de chamado de Relações Governamentais, “é toda atividade organizada, exercida dentro da lei e da ética, por um grupo de interesses definidos e legítimos, com o objetivo de ser ouvido pelo poder público para informá-lo e dele obter determinadas medidas, decisões ou atitudes.”
O objetivo é claro: levar informações relevantes aos representantes dos poderes Executivo ou Legislativo, na esperança de influenciar as decisões governamentais. Para isso, vale utilizar qualquer meio lícito, respeitando as melhores práticas de compliance, ética e transparência. E por que esse contato é importante? Porque congressistas são pessoas “normais”, representantes do povo, que evidentemente não conhecem as demandas setoriais específicas, mas terão que, em algum momento, se posicionar sobre tais temas.
É neste cenário que uma boa comunicação vem se tornando indispensável para os profissionais da área de Relações Governamentais. Na era da transparência, não existe mais espaço para conversas obscuras. As demandas devem ser levadas de forma organizada, bem fundamentada e apresentadas em materiais de fácil entendimento. Mais do que entender a pauta, o agente público deve ser capaz de explicar a importância e os impactos de tais ações aos seus pares e, principalmente, os seus eleitores.
Algumas empresas e associações setoriais, inclusive, já vêm optando por forjar profissionais da área da comunicação para aturem como lobistas. Sinal dos novos tempos.