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João Rosa*
Drones, robótica, inteligência artificial. Termos geralmente associados à ficção científica, mas estão cada vez mais presentes nas lavouras brasileiras. Eles fazem parte de um novo conceito de condução dos cultivos, a agricultura digital, que integra a coleta de dados no campo – cada vez mais precisa e em tempo real – com técnicas de modelagem computacional, permitindo tomadas de decisão mais assertivas aos produtores. A promessa é que as novas tecnologias aumentem as produtividades, reduzam custos e evitem desperdícios, sendo, portanto, mais sustentáveis.
Neste ambiente de novas soluções, um termo é universal: conectividade. Em outras palavras, para que os produtores usufruam do potencial das ferramentas é necessário estar conectado à internet. E como será que o campo mato-grossense está neste sentido? Em pesquisa realizada com cerca de 300 produtores durante o Caravana Soja, projeto realizado pelo Canal Rural, Associação dos Produtores de Soja do Brasil (Aprosoja Brasil) e Serviço Nacional de Aprendizagem Rural do Mato Grosso (Senar-MT), etapa Mato Grosso, que percorreu 18 cidades do Estado, revela que 90% dos talhões não têm conectividade. Um número expressivo e que evidencia o desafio de desenvolvimento na infraestrutura de conexão.
O cenário, entretanto, não é de todo ruim. Quando a pergunta é restringida para a sede da fazenda, o cenário se inverte, de modo que 80% dos produtores declaram que a administração da propriedade já tem acesso à internet. Esse contexto permite a implementação de um recurso técnico alternativo (RTA) ou, no bom português, uma “gambiarra” tecnológica pelas empresas envolvidas: a sincronização. Em termos práticos, as soluções coletam os dados no campo e sincronizam no escritório. Ou seja, a automação e velocidade das respostas são limitadas. As tomadas de decisão em tempo real não são tão reais assim. Temos tecnologia de Ferrari, mas estamos andando com ela em estrada de terra. Porém, se considerarmos que a difusão da internet é relativamente recente, com utilização em massa no Brasil a partir dos anos 2000, a melhoria no campo é apenas questão de tempo.
Mas não somente as “estradas da conectividade” são um gargalo para a agricultura digital. Essas novas tecnologias exigem um grau de conhecimento elevado para absorver os conceitos e aplicabilidade das soluções. E neste sentido, nossos pilotos estão despreparados, sem habilitação. De acordo com dados do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2014, apenas 4% dos trabalhadores com formação superior estavam alocados no setor agropecuário. Se considerarmos que cerca de 25% dos empregos é do setor, os dados revelam uma realidade alarmante.
“Tudo bem, mas quem vai trabalhar com essas novas máquinas é a nova geração, que absorve muito mais rápido as novas tecnologias. Veja como eles mexem nos celulares e computadores”. Realmente, a geração “Z” é muito mais familiarizada às ferramentas high tech, aprendendo a manipular as soluções com uma velocidade incrível, e as oportunidades profissionais a que estão sujeitas são inúmeras. Entretanto, “saber como mexer”, no meu ponto de vista, não é o problema, mas entender o “como e o porquê” do funcionamento, esse sim é o desafio: entender e incorporar conceitos básicos. Para ajudar na argumentação, elenco dados da Diretoria de Avaliação da Educação Básica (DAEB), que revela que apenas 11% dos alunos do 9º ano formados em 2013 são considerados proficientes (aprendizado esperado) em matemática. Em língua portuguesa, os números são um pouco melhores, mas não menos chocantes, com 23% proficientes.
A digitalização, sem dúvidas, é o futuro da agricultura. Mas, para que ela se concretize, investimentos na conectividade e educação são fundamentais para que possamos explorar as soluções em todo seu potencial. Hoje, estamos testando Ferrari em estrada de terra e com piloto sem habilitação.
João Rosa é professor do Pecege
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