Por: Nicholas Vital, Diretor da ABMRA
O Agro precisa ir além da pauta econômica
Setor já é visto como o motor da economia brasileira, mas precisa ser reconhecido pela sociedade como uma potência socioambiental
Nos últimos anos, nos acostumamos a ouvir boas notícias sobre o agronegócio nas editorias de economia dos principais veículos de imprensa do Brasil. Safra recorde, abertura de novos mercados para exportação, contribuição do setor para o aumento do PIB, são apenas alguns exemplos recentes.
Tudo isso, evidentemente, precisa ser comunicado proativamente, de forma clara e perene, com o objetivo de reforçar a importância do setor para o país. No entanto, apenas isso não será suficiente para sensibilizar a sociedade urbana, já contaminada por um preconceito em relação ao agro.
Mais do que se apresentar como “motor da economia” – o que de fato é – as empresas e entidades representativas do agronegócio precisam concentrar esforços nas pautas positivas ligadas às questões ambientais, sociais e de governança – o famoso ESG, algo que já está na pauta de produtores rurais e empresas exportadoras do setor há muito tempo. Bons cases de sucesso não faltam. O que falta é uma comunicação efetiva dessas ações.
A própria aceitação da importância do ESG por parte de algumas lideranças do setor já seria um importante passo neste sentido. Infelizmente, ainda existem muitas pessoas influentes no agro que torcem o nariz para essas pautas. Para eles, tais pautas só existem para prejudicar a produção brasileira. Não poderiam estar mais errados. Na realidade, para quem anda na linha, os compromissos ESG podem ser extremamente positivos.
Gostem ou não, o fato é que essa sigla vai ditar os rumos dos negócios pelos próximos anos – e isso não tem nada a ver com “estratégias do globalismo” ou qualquer tipo de teoria conspiratória. A pauta ESG é hoje uma demanda da sociedade, especialmente após a pandemia, período em que as pessoas passaram a refletir mais profundamente sobre os impactos do homem sobre o meio ambiente.
As pessoas já não se preocupam mais apenas com os aspectos nutricionais dos alimentos que estão consumindo, sob o ponto de vista unicamente da saúde. Atualmente, questões como a rastreabilidade, o trabalho justo e o impacto de determinado produto para as mudanças climáticas também têm um papel decisivo na decisão de compra por parte do consumidor.
Esta é uma tendência que veio para ficar. Tal pensamento já está enraizado entre os millennials (pessoas fa faixa etária dos 25 aos 40 anos) e é ainda mais radical na geração Z (nascidos a partir dos anos 2000). Trata-se, portanto, de uma demanda das novas gerações, gente que muito em breve vai assumir o poder, seja na política ou dentro das organizações. O produtor que tiver a pretenção de se manter no mercado nas próximas décadas fatalmente vai precisar estar alinhado aos desejos deste novo consumidor.
O cenário para o agronegócio hoje é desafiador. Sem um histórico de comunicação, o setor sofre com a desconfiança por parte de uma sociedade sedenta por informações. E neste ponto, as pautas ESG podem ser importantes aliadas para uma mudança de percepção em relação ao agro brasileiro.
Mais do que nunca, será preciso apresentar os seus compromissos ambientais, sociais e de governança de forma clara, transparente e factível.
A comunicação terá um papel decisivo neste processo. Mais do que fazer, hoje é fundamental contar à sociedade tudo o que está sendo feito e, acima de tudo, mostrar que é possível unir o lucro a um propósito genuíno.