“Eu nunca imaginei viver a onda dos CEOs ativistas, que buscam transformar as empresas segundo a tecnologia ESG (meio ambiente, pessoas e governança). E tem mais: quem não for assim pode ser colocado à margem do mercado pois não se trata apenas de uma sigla; é uma tendência que veio para ficar. O lucro continua importante, mas não mais a todo custo. É preciso pensar (e fazer) ações voltadas para o público interno, as comunidades, o plano sustentável”. Com a palavra, o economista e pesquisador Paulo do Carmo Martins, chefe-geral da Embrapa Gado de Leite por duas gestões e um dos maiores conhecedores da cadeia do leite, convidado da série Agro Talks Exclusivo, iniciativa da Associação Brasileira de Marketing Rural e Agronegócio (ABMRA) voltada para as empresas associadas.
A palestra de Paulo Martins jogou luz sobre o conceito ESG e seus três pilares, cada vez mais exigidos para que uma empresa seja reconhecida e valorizada. “A questão ambiental é essencial e, para isso, é necessária a geração de tecnologias e inovação. O segundo pilar é a preocupação social, que deve ser vista por uma ótica das pessoas de dentro e de fora da organização. Por fim, a transparência nos negócios das empresas com o consumidor e com o governo”.
Segundo Paulo Martins, o momento exige preocupação de visão de longo prazo das empresas. “Minha geração consumia para ostentar, a nova geração tem a lógica do consumo consciente”. Assim, é preciso estar em consonância com os valores dos consumidores. É o caso das questões ambientais, mas também e diversidade, imagem e reputação.
Nesse sentido, o pesquisador da Embrapa Gado de Leite ressalta que se torna natural as empresas selecionarem fornecedores com consciência ambiental, que enxerguem além do lucro, mas tenham a visão das pessoas e, nesse caso, particularmente das novas gerações.
“Um exemplo que ganha cada vez mais espaço é o movimento dos produtos plant based. As indústrias de proteínas animais devem ficar atentos e trabalhar para convencer os consumidores de quem seus princípios e valores estão alinhados a esse conceito. Não, não se tratam de produtos concorrentes; eles são complementares. Isso está levando os grandes players para firmar parcerias com startups e buscar a inovação aberta. Bem-vinda bioeconomia, circular e colaborativa”, assinala Paulo Martins.