Os desafios do Brasil na pauta socioambiental e o fortalecimento da imagem do agro foram temas do Ideia Café, da Associação Brasileira de Marketing Rural e Agro (ABMRA)
Mesmo batendo recordes de produção agrícola e animal, o Brasil não está ganhando participação importante no comércio mundial de alimentos. “Saímos de 6% para 7% no máximo de market share. É relevante, mas muito menos do que imaginávamos”. A informação é de Cléber Soares, Secretário Adjunto de Inovação, Desenvolvimento Sustentável, Irrigação e Cooperativismo do Ministério da Agricultura e Pecuária, convidado para o Ideia Café, da Associação Brasileira de Marketing Rural e Agro (ABMRA). Cleber protagonizou uma rica discussão sobre os desafios do agronegócio brasileiro frente à agenda socioambiental mundial, além das oportunidades para afinar a comunicação e, finalmente, atingir a sociedade urbana.
“Por volta de 2016 e 2017, o Conselho de Informações sobre Biotecnologia realizou pesquisa nos grandes centros do País sobre o valor percebido de dois setores econômicos importantes: agricultura e farmacêutica. A pergunta feita foi ‘Quanto você percebe que o agronegócio entrega para você?’ Apenas 23% reconheceram que o Agro contribui de alguma forma em seu cotidiano, diferente do farmacêutico, avaliado positivamente por 82% dos entrevistados. É inadmissível que o cidadão brasileiro não enxergue como o agronegócio contribui em sua vida”, critica Cléber Soares.
Em 2022, a pesquisa Percepções do Agro – O Que o Brasileiro Pensa do Agronegócio, iniciativa do movimento Todos a Uma Só Voz, identificou que 7 em cada 10 brasileiros têm visão positiva em relação ao agronegócio. A situação está mudando? “Pode ser, mas ainda está longe do ideal. A dificuldade do campo se comunicar com o público urbano é uma pauta recorrente”, disse Julio Cargnino, vice-presidente da ABMRA.
“Esse é o nosso propósito mais importante”, disse Cargnino que também coordena o Ideia Café. “Uma das missões da ABMRA é criar e apoiar iniciativas que auxiliem na construção de uma comunicação mais efetiva e com forte presença fora da ‘bolha’, aproximando a cidade do campo”.
Ao abordar sobre o Green Deal, pacto verde europeu, Cleber Soares destacou que as mudanças em decorrência da pandemia também afetaram o consumidor final, que está mais exigente quanto à origem dos produtos agropecuários, “inclusive porque a população está mais consciente em relação ao seu papel na preservação do meio ambiente e na qualidade do que consome”.
“A alteração nos moldes de consumo não se restringe apenas aos consumidores, abrangendo também as corporações. Um exemplo é a iniciativa do McDonalds, que a partir de 2025 não comprará ovos de países que não adotam o sistema cage free, ou seja, produção de galinhas livres de gaiolas. Essa decisão da empresa está mudando a forma de produzir ovos no Brasil e no mundo. “É por essa e outras razões que países produtores de alimentos, como o Brasil, devem estar atentos às mudanças de protocolos da iniciativa privada, pois o não cumprimento de certos requisitos sustentáveis pode prejudicar cadeias produtivas inteiras. Quem não se adequar, terá dificuldades de se manter no mercado, visto que esse tipo de comportamento deve ser tendência para os próximos anos” comenta o secretário.
Cléber também comentou sobre participação do Brasil na COP 27, Conferência das Partes da Organização das Nações Unidas (ONU), na qual a pauta central foi a emissão de carbono. “Está aí um tópico que deve ser priorizado, pois as cobranças vão aumentar”.
Nesse sentido, ele alerta, o “Brasil tem um desafio gigantesco, que é definir seus próprios parâmetros de cálculo de emissão de CO², baseado no clima tropical. A maior parte das referências vêm de países de clima temperado. Não podemos usar o mesmo sistema de mitigação de países, como o Estados Unidos, que ficam 6 meses por ano debaixo de gelo. Os fatores de emissão de clima considerados pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) são todos baseados na emissão em países de clima temperado”, explicou.
Ideia Café ABMRA
É um espaço de diálogo com personalidades sobre temas atuais que impactam na comunicação do Agro. Os encontros abordam sempre um tema relevante e têm um convidado especialíssimo – um formador de opinião respeitado pelo mercado. Os participantes têm a oportunidade de interagir com o convidado. O objetivo principal é a troca de ideias, com fortalecimento do conhecimento e das próprias relações entre os presentes. Os encontros são exclusivos para Associados da ABMRA, mas convidados especiais podem participar, desde que previamente inscritos. É um momento de fazer networking e aprimorar conhecimentos, além de valorização e prestígio para os Associados.